Eram já tão comuns quanto a chuva da tarde ou o vento frio
da madrugada, mas não tinham o menor desejo de serem banais. Guardavam ainda
seus presentes trocados, um pouco do cheiro do
outro na memória e, além disso, poucas palavras em velhos papéis ainda brancos.
Suas pernas, já menos cansadas do caminhar das ruas, depois do acaso daquela remota tarde, já
tinham fôlego para o que lhes gostava e degustava. Em meio a sussurros e
sorrisos, suas línguas prenunciavam sua entrega aos vícios, após suas blindagens.
Ele nem sabia que futuro haveria ali, mas sabia que queria
algum. Acompanhado por alcoólicos de valores variados, gargalhadas, músicas
velhas nos aparelhos e o que tinham no bolso para matar suas fomes, assim que
se aventurava em longos sonhos, curtos, bobos e expressivos, daqueles de
despertar com um sorriso na face. Enxergava naquele alguém uma mão e um cuidado
diferente: um toque distante e quente; rápido e intenso; idealizado e desconcertante.
À alta velocidade, cruzava caminhos longos, tinha registros
em seus sinais, poucos êxitos, mas tudo corria independente de razões. Não
sabia aonde queria chegar, mas ia e tinha certeza de que não era qualquer lugar
que serviria.
De longe, eram só aqueles lábios que lhe inflamavam. Apenas
um sorriso que movimentava sua cara emburrada e seu olhar catatônico do mundo
ao redor. Ainda era o que lhe tirava do chão por um instante. Era aquele pedaço
de pele de pêssego que o transformava numa criatura suscetível e destemida, num âmbito
de veneno e loucura. No fundo, era o que lhe revirava do avesso, pisoteava sua
oratória e incendiava seus impulsos. De longe, era o melhor que lhe ocorrera
até então.
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