quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Além de um Mero Acaso.

Eram já tão comuns quanto a chuva da tarde ou o vento frio da madrugada, mas não tinham o menor desejo de serem banais. Guardavam ainda seus presentes trocados, um pouco do cheiro do outro na memória e, além disso, poucas palavras em velhos papéis ainda brancos.
Suas pernas, já menos cansadas do caminhar das ruas, depois do acaso daquela remota tarde, já tinham fôlego para o que lhes gostava e degustava. Em meio a sussurros e sorrisos, suas línguas prenunciavam sua entrega aos vícios, após suas blindagens.
Ele nem sabia que futuro haveria ali, mas sabia que queria algum. Acompanhado por alcoólicos de valores variados, gargalhadas, músicas velhas nos aparelhos e o que tinham no bolso para matar suas fomes, assim que se aventurava em longos sonhos, curtos, bobos e expressivos, daqueles de despertar com um sorriso na face. Enxergava naquele alguém uma mão e um cuidado diferente: um toque distante e quente; rápido e intenso; idealizado e desconcertante.
À alta velocidade, cruzava caminhos longos, tinha registros em seus sinais, poucos êxitos, mas tudo corria independente de razões. Não sabia aonde queria chegar, mas ia e tinha certeza de que não era qualquer lugar que serviria.
De longe, eram só aqueles lábios que lhe inflamavam. Apenas um sorriso que movimentava sua cara emburrada e seu olhar catatônico do mundo ao redor. Ainda era o que lhe tirava do chão por um instante. Era aquele pedaço de pele de pêssego que o transformava numa criatura suscetível e destemida, num âmbito de veneno e loucura. No fundo, era o que lhe revirava do avesso, pisoteava sua oratória e incendiava seus impulsos. De longe, era o melhor que lhe ocorrera até então.

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