quarta-feira, 3 de outubro de 2012

‘Máscaras’ e ‘Lado a Lado’ decepcionam no ibope, mas surpreendem em qualidade e inovação.


A dramaturgia brasileira é uma das mais respeitadas do mundo. Ainda que pareça natural, os motivos a comemorar não são tantos assim. Constantemente, somos bombardeados com a mídia de baixa qualidade, com falhas na produção, no enredo e na interpretação; o que prejudica a veracidade artística de muitas obras.
Especificamente ao tratarmos sobre a telenovela, o atual gênero mais popular, vivemos a contradição da preocupação irrisória com a realidade e os índices astronômicos de veiculações midiáticas como a audiência e, principalmente, a repercussão nos meios de comunicação e no público.
É lastimável ver que telenovelas de pouco conteúdo, de valores apelativos e histórias mirabolantes alcancem elevados pontos no ibope. Em meio à mediocridade, os ótimos textos de ‘Lado a Lado’ (Rede Globo), da autoria de Claudia Lage e João Ximenes Braga, e ‘Máscaras’ (Record), de Lauro César Muniz tenham enfrentado as duras críticas e a pouca receptividade do público.
A trama da Rede Globo resgata os folhetins românticos de época, baseado em uma linda fotografia, texto muito bem organizado e situado no período histórico retratado. Uma conexão perfeita com o elenco experiente e a leveza de como o enredo é contado, com bastante maturidade. Porém, até o momento, a alta cúpula da emissora carioca não está satisfeita com os números do ibope.
Já na Barra Funda, a provável última telenovela de Lauro César Muniz amarga o título da “menor média de ibope entre as novelas desde 2004” e chegou ao fim na noite de ontem, após apenas seis meses de exibição – sendo que novelas da Record duram mais de dez meses.
Além de estar mergulhada na crise que se instaurou no horário nobre da Record, ‘Máscaras’ foi praticamente desprezada pela grande mídia e a própria emissora fez pouco caso para continuar a divulgar o produto. Pequenas falhas no início e, até mesmo o horário de exibição foram cruciais para a baixa repercussão da trama. Por sinal, em contrapartida, um produto de grande relevância: uma história que fugia de todos os clichês; enredo inteligente com romances, ação, política e poesia; personagens fortes e surpreendentes; a sacada do nióbio foi sensacional!
Tudo isso embalado, ainda, por atuações magníficas como Paloma Duarte, Bárbara Bruno, Cecil Thiré, Jonas Bloch, Miriam Freeland e até os jovens Daniela Galli, Emílio Dantas e Luiza Curvo. Infelizmente, alguns raros atores deixaram a desejar (Dado Dolabella e Louise D’Tuani, por exemplo) , mas a eficiência do texto-direção e a amarração de núcleos cobriam as falhas, sustentados principalmente na originalidade de Lauro e sua equipe.
Apenas críticos vazios podem tratar tais produções como “fracassos”, é preciso ver, além dos números, olhares, profundeza de sorrisos, segurança em um texto de cunho social. Produtos inovadores são estes que mostram realidades, vidas e surpreendem ao passear longe da fantasia. Quem sabe, isso tudo seja resultado de como leitura virou obrigação e TV, mero passatempo. Claro que brasileiro gosta de fugas e, até contos de fadas, mas recuso-me a conceber que possamos ser tão subestimados.

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