A dramaturgia
brasileira é uma das mais respeitadas do mundo. Ainda que pareça natural, os
motivos a comemorar não são tantos assim. Constantemente, somos bombardeados
com a mídia de baixa qualidade, com falhas na produção, no enredo e na
interpretação; o que prejudica a veracidade artística de muitas obras.
Especificamente ao
tratarmos sobre a telenovela, o atual gênero mais popular, vivemos a
contradição da preocupação irrisória com a realidade e os índices astronômicos
de veiculações midiáticas como a audiência e, principalmente, a repercussão nos
meios de comunicação e no público.
É lastimável ver
que telenovelas de pouco conteúdo, de valores apelativos e histórias
mirabolantes alcancem elevados pontos no ibope. Em meio à mediocridade, os
ótimos textos de ‘Lado a Lado’ (Rede Globo), da autoria de Claudia Lage e João
Ximenes Braga, e ‘Máscaras’ (Record), de Lauro César Muniz tenham enfrentado as
duras críticas e a pouca receptividade do público.
A trama da Rede
Globo resgata os folhetins românticos de época, baseado em uma linda
fotografia, texto muito bem organizado e situado no período histórico
retratado. Uma conexão perfeita com o elenco experiente e a leveza de como o
enredo é contado, com bastante maturidade. Porém, até o momento, a alta cúpula
da emissora carioca não está satisfeita com os números do ibope.
Já na Barra Funda,
a provável última telenovela de Lauro César Muniz amarga o título da “menor
média de ibope entre as novelas desde 2004” e chegou ao fim na noite de ontem,
após apenas seis meses de exibição – sendo que novelas da Record duram mais de
dez meses.
Além de estar
mergulhada na crise que se instaurou no horário nobre da Record, ‘Máscaras’ foi
praticamente desprezada pela grande mídia e a própria emissora fez pouco caso
para continuar a divulgar o produto. Pequenas falhas no início e, até mesmo o
horário de exibição foram cruciais para a baixa repercussão da trama. Por
sinal, em contrapartida, um produto de grande relevância: uma história que
fugia de todos os clichês; enredo inteligente com romances, ação, política e
poesia; personagens fortes e surpreendentes; a sacada do nióbio foi
sensacional!
Tudo isso
embalado, ainda, por atuações magníficas como Paloma Duarte, Bárbara Bruno,
Cecil Thiré, Jonas Bloch, Miriam Freeland e até os jovens Daniela Galli, Emílio
Dantas e Luiza Curvo. Infelizmente, alguns raros atores deixaram a desejar (Dado
Dolabella e Louise D’Tuani, por exemplo) , mas a eficiência do texto-direção e
a amarração de núcleos cobriam as falhas, sustentados principalmente na
originalidade de Lauro e sua equipe.
Apenas críticos
vazios podem tratar tais produções como “fracassos”, é preciso ver, além dos
números, olhares, profundeza de sorrisos, segurança em um texto de cunho
social. Produtos inovadores são estes que mostram realidades, vidas e
surpreendem ao passear longe da fantasia. Quem sabe, isso tudo seja resultado
de como leitura virou obrigação e TV, mero passatempo. Claro que brasileiro
gosta de fugas e, até contos de fadas, mas recuso-me a conceber que possamos
ser tão subestimados.
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