quinta-feira, 21 de junho de 2012

Hoje Eu Apanho: Por que o “A Caminho da Liderança” furou?

Nova logomarca da Record. 
Ainda que pareça frívolo falar da tão comentada crise no chamado prime-time da TV Record, é bastante conveniente comentar sobre a grave tensão que se instalou nos bastidores da emissora da Barra Funda.
A princípio, pensava-se que a queda na audiência era causada pela dramaturgia - especialmente pela novela ‘Máscaras’ -, porém percebeu-se que a emissora viu seus principais programas do horário nobre despencarem no ibope. Após o término da novela ‘Vidas Em Jogo’ e da minissérie ‘Rei Davi’, a trama de Lauro César Muniz não alcançou o resultado esperado e, para alavancar os números, às pressas, foi apertado o play na reprise de ‘Vidas Opostas’. Em vão, afinal, ‘Rebelde’, ‘Jornal da Record’, a própria ‘Máscaras’ e o seriado ‘Fora de Controle’ sofreram as consequências de mais uma empreitada desastrosa.
Viu-se que o problema ia muito além, não havia muito o que fazer. A estreia de ‘Carrossel’ e a volta de Chaves à grade do SBT surpreenderam e elevaram a emissora de Silvio Santos ao segundo lugar. Agora, Band começa a esboçar uma reação também. Não há planejamento? Talvez sim, talvez não. De que adianta lançar um novo produto e interrompê-lo novamente daqui a algumas semanas, quando começam as Olimpíadas de Londres? O jeito é dar uma fugidinha dos principais produtos da Globo que, por sinal, têm dado muita dor de cabeça pra todo mundo; então, ‘Pica-pau’ ali, ‘Tudo a Ver’ aqui... Horas e horas de ‘Chris’... Nada surtiu muito efeito. Então, com pouco mais de um mês de exibição, a reprise de ‘Vidas Opostas’ foi tirada do ar, mas a nova temporada de 'CSI' mantém os mesmos índices ínfimos.
Miriam Freeland, em 'Máscaras'.
Para se armar contra a concorrência, a Record já encurtou o ‘Hoje Em Dia’ e começa a prender sua programação à Fazenda, uma das poucas armas na guerra pela audiência, ainda que não esteja com o patamar esperado. Rodrigo Faro ganhará um novo programa e as Olímpiadas se tornam a “menina dos olhos”. Nas próximas semanas, mais ajustes devem ser feitos: mudanças de horário, cortes, programas encurtados e, claro, muitos “tapa-buracos”. Atualmente, apenas a programação matinal e a dos fins de semana oferecem bons resultados. Também, pudera! ‘O Melhor do Brasil’, ‘Legendários’, ‘Tudo É Possível’, ‘Programa do Gugu’ e ‘Domingo Espetacular’ são produções milionárias e são bem mais pressionadas a manterem seu crédito na emissora.
Com 58 anos de existência, a Record é a emissora mais antiga ainda em atividade, já enfrentou problemas na Justiça, uma verdadeira montanha russa no ibope e uma crise financeira na década de 80, que culminou em sua venda para Edir Macedo, dono da Igreja Universal, mal vista entre muita gente. Aqui mora um ponto crucial: A emissora tornou-se refém de um autoritarismo extremo que causa muita apreensão em muitos telespectadores e reflete, sobretudo, na imparcialidade de sua programação e nosso seu jornalismo, autointitulado “verdade”. Pode piorar? Claro! Além de um poço de arrogância, a TV Record começou a transmitir uma ideia hipócrita de si mesma: Ao passo que os programas de entretenimento usam e abusam das mulheres seminuas, dos corpos sarados e daqueles tipos de música que conhecemos muito bem (tchus, tchás, tchereretchechês, créus, poeiras, apês, quadrados e cia.), as mesmas atitudes são condenadas nos programas religiosos.
Vale ressaltar que a Rede Record investiu pesado nos últimos anos em sua programação com o objetivo de tornar-se líder de audiência. Marcada pelos grandes festivais, por lançar grandes talentos e tendências, conseguiu se tornar a segunda maior emissora do país, a 28ª maior do mundo, além de alcançar grandes coberturas em várias regiões brasileiras, ampliou seu espaço para produções dramatúrgicas e jornalísticas, com a criação do RecNov e da Record News, primeira emissora de notícias na TV aberta. Sem dúvida tornou-se uma alternativa para todo mundo que cansou da mesmice manipuladora da Globo e da alienação e do excesso de mofo no SBT.
Mas, o que falta? Simples! Maturidade, humildade e respeito. Os principais defeitos de suas concorrentes foram absorvidos e atenuados: programas mudando de horário, baixas irreparáveis em seu cache e atitudes tomadas por impulso, uma acirrada disputa de egos que, ao invés de unir seus produtores, diretores, artistas e colaboradores, tornaram sua equipe fria e distante, gerando conflito e apreensão com as concorrentes e com o próprio público. Ou seja, muito alarde e pouco resultado!
O que levantará a audiência do brinquedinho do Edir Macedo? Não sei. Brinquedo? Sim! Muita gente está brincando de fazer TV. É preciso ter coragem para ousar e investir em uma boa programação, mas sem esquecer a humildade para respeitar e ser leal com a própria arte e, principalmente, com o público que, indiferentemente das críticas dos mais cítricos, é habituado a assistir televisão e não perderá esta essência tão cedo. É preciso ter discernimento para não cair no erro de pregar a santidade numa hora e botar as gatinhas pra dançar em outro. Maturidade de TV de primeira é valorizar os artistas que possui, deixar de agir com amadorismo e parar de depender sempre de quem continua quietinho, comendo calado, várias e várias vezes.
Sede da Record.

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