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Ainda
que pareça frívolo falar da tão comentada crise no chamado prime-time da TV
Record, é bastante conveniente comentar sobre a grave tensão que se instalou
nos bastidores da emissora da Barra Funda.
A
princípio, pensava-se que a queda na audiência era causada pela dramaturgia -
especialmente pela novela ‘Máscaras’ -, porém percebeu-se que a emissora viu
seus principais programas do horário nobre despencarem no ibope. Após o término
da novela ‘Vidas Em Jogo’ e da minissérie ‘Rei Davi’, a trama de Lauro César
Muniz não alcançou o resultado esperado e, para alavancar os números, às
pressas, foi apertado o play na reprise de ‘Vidas Opostas’. Em vão, afinal, ‘Rebelde’,
‘Jornal da Record’, a própria ‘Máscaras’ e o seriado ‘Fora de Controle’
sofreram as consequências de mais uma empreitada desastrosa.
Viu-se
que o problema ia muito além, não havia muito o que fazer. A estreia de ‘Carrossel’
e a volta de Chaves à grade do SBT surpreenderam e elevaram a emissora de
Silvio Santos ao segundo lugar. Agora, Band começa a esboçar uma reação também.
Não há planejamento? Talvez sim, talvez não. De que adianta lançar um novo
produto e interrompê-lo novamente daqui a algumas semanas, quando começam as
Olimpíadas de Londres? O jeito é dar uma fugidinha dos principais produtos da
Globo que, por sinal, têm dado muita dor de cabeça pra todo mundo; então, ‘Pica-pau’
ali, ‘Tudo a Ver’ aqui... Horas e horas de ‘Chris’... Nada surtiu muito efeito.
Então, com pouco mais de um mês de exibição, a reprise de ‘Vidas Opostas’ foi
tirada do ar, mas a nova temporada de 'CSI' mantém os mesmos índices ínfimos.
Miriam Freeland, em 'Máscaras'. |
Para
se armar contra a concorrência, a Record já encurtou o ‘Hoje Em Dia’ e começa a
prender sua programação à Fazenda, uma das poucas armas na guerra pela
audiência, ainda que não esteja com o patamar esperado. Rodrigo Faro ganhará um
novo programa e as Olímpiadas se tornam a “menina dos olhos”. Nas próximas
semanas, mais ajustes devem ser feitos: mudanças de horário, cortes, programas
encurtados e, claro, muitos “tapa-buracos”. Atualmente, apenas a programação
matinal e a dos fins de semana oferecem bons resultados. Também, pudera! ‘O
Melhor do Brasil’, ‘Legendários’, ‘Tudo É Possível’, ‘Programa do Gugu’ e ‘Domingo
Espetacular’ são produções milionárias e são bem mais pressionadas a manterem
seu crédito na emissora.
Com
58 anos de existência, a Record é a emissora mais antiga ainda em atividade, já
enfrentou problemas na Justiça, uma verdadeira montanha russa no ibope e uma
crise financeira na década de 80, que culminou em sua venda para Edir Macedo,
dono da Igreja Universal, mal vista entre muita gente. Aqui mora um ponto
crucial: A emissora tornou-se refém de um autoritarismo extremo que causa muita
apreensão em muitos telespectadores e reflete, sobretudo, na imparcialidade de
sua programação e nosso seu jornalismo, autointitulado “verdade”. Pode piorar?
Claro! Além de um poço de arrogância, a TV Record começou a transmitir uma
ideia hipócrita de si mesma: Ao passo que os programas de entretenimento usam e
abusam das mulheres seminuas, dos corpos sarados e daqueles tipos de música que
conhecemos muito bem (tchus, tchás, tchereretchechês, créus, poeiras, apês,
quadrados e cia.), as mesmas atitudes são condenadas nos programas religiosos.
Vale
ressaltar que a Rede Record investiu pesado nos últimos anos em sua programação
com o objetivo de tornar-se líder de audiência. Marcada pelos grandes
festivais, por lançar grandes talentos e tendências, conseguiu se tornar a
segunda maior emissora do país, a 28ª maior do mundo, além de alcançar grandes
coberturas em várias regiões brasileiras, ampliou seu espaço para produções
dramatúrgicas e jornalísticas, com a criação do RecNov e da Record News,
primeira emissora de notícias na TV aberta. Sem dúvida tornou-se uma
alternativa para todo mundo que cansou da mesmice manipuladora da Globo e da
alienação e do excesso de mofo no SBT.
Mas,
o que falta? Simples! Maturidade, humildade e respeito. Os principais defeitos
de suas concorrentes foram absorvidos e atenuados: programas mudando de
horário, baixas irreparáveis em seu cache e atitudes tomadas por impulso, uma
acirrada disputa de egos que, ao invés de unir seus produtores, diretores, artistas
e colaboradores, tornaram sua equipe fria e distante, gerando conflito e
apreensão com as concorrentes e com o próprio público. Ou seja, muito alarde e
pouco resultado!
O
que levantará a audiência do brinquedinho do Edir Macedo? Não sei. Brinquedo?
Sim! Muita gente está brincando de fazer TV. É preciso ter coragem para ousar e
investir em uma boa programação, mas sem esquecer a humildade para respeitar e
ser leal com a própria arte e, principalmente, com o público que,
indiferentemente das críticas dos mais cítricos, é habituado a assistir
televisão e não perderá esta essência tão cedo. É preciso ter discernimento
para não cair no erro de pregar a santidade numa hora e botar as gatinhas pra
dançar em outro. Maturidade de TV de primeira é valorizar os artistas que
possui, deixar de agir com amadorismo e parar de depender sempre de quem continua
quietinho, comendo calado, várias e várias vezes.
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