Após introduzir forçadamente a linha do tempo e ter sido eleita a rede social mais insatisfatória, o Facebook, em breve, trará uma
novidade que, com certeza, vai irritar grande parte de seus usuários: vídeos de
anunciantes serão exibidos automaticamente no seu feed, com duração de 15
segundos, pegando carona, nos mesmos irritantes do YouTube.
Outro polêmico mistério, porém, aflige grande parte dos
usuários, principalmente os que lidam com páginas: Cada vez mais, o Facebook
vem escolhendo qual o público que lê suas mensagens, de modo que cada postagem
chega a cerca de um terço de seus amigos. Para ter uma maior audiência, você
precisa “promover” um post, ou seja, pagar por ele, um valor que equivale a
cerca de R$ 13.
Em uma coluna publicada esta semana no medium.com, a
diretora de Marketing Callie Schweitzer analisa que o compartilhar no Facebook
costumava ser sobre “trocas” e hoje esses compartilhamentos viraram
“declarações”. E em lugar de “amigos”, o que se tem hoje no Facebook é uma
“audiência”.
Ou seja, mais do que aquilo que você “curte”, o que você
compartilha para sua audiência diz muito sobre quem você… quer ser (e não
exatamente o que você é). Tá, tudo isso parece estar chovendo no molhado, mas
existe uma mudança de comportamento importante aí. A diferença entre “troca” e
“declarações” é simples:
A primeira significa compartilhar gostos com pessoas que,
você sabe, têm interesses semelhantes aos seus e podem conversar e, de fato,
“trocar” ideias sobre aquilo de alguma forma.
A segunda pressupõe que você está postando algo não
exatamente para dialogar, mas para criar uma imagem emoldurada, que possa ser
“curtida” e “compartilhada” pela maior quantidade de gente possível.
Um exercício simples para testar essa hipótese da transição
da ‘troca’ pra ‘declaração’: (1) Quão neurótico você é com a quantidade de
“likes” e compartilhamentos que tem durante o dia? (2) Quantos dos posts que
você compartilhou durante a última semana foram criados para que um grupo de
pessoas (ou mesmo uma só pessoa) te ache bacana? (3) E tentando fazer esse
cálculo, você realmente consegue fazer essa distinção entre aquilo que é genuinamente
seu e aquilo que é para os outros? Ou tudo vira uma coisa só?
O que muitos, de certa forma, imaginam tem se tornado
realidade. O Facebook tornou-se um verdadeiro muro de lamentações e começa a
abranger publicações, no mais alto estilo sessão de terapia rápida e sem
custos. Certo? Nem sempre.
O que se supõe é que muitos que têm acesso a sessões de
análise, hoje, tem uma conta no Facebook e que lá, elas façam exatamente aquilo
que a maioria das pessoas faz na rede do Zuckerberg: projetam uma versão
melhorada de si mesmo criando, sobretudo, uma identidade moldada de acordo com
o que querem representar para os outros. Enfim, é tudo aquilo que, nas
entrelinhas, você faz em uma sessão de terapia, só que sem aquela coceirinha
necessária da autorreflexão.
Essas questões servem como um começo de conversa para as
mudanças graduais que o Facebook vem promovendo. Há quem diga que o site está
deixando de ser uma “rede social” para se transformar em um grande portal de
conteúdo. O que explica totalmente esse novo comportamento de deixarmos de ser
indivíduos em conversa com amigos para nos transformarmos em “marcas”
consumidas por uma audiência heterogênea (que vai da tia que você não vê há
anos ao colega de trabalho).
E vira tudo um grande portal alimentado por pessoas-marcas
que deixaram de postar coisas que realmente as descrevem, pra postar apenas
aquilo que vai ser socialmente aceito e, claro, consumível.
De onde vem outra pergunta: é o Facebook que está se
adaptando a essa nossa mutação das pessoas em marcas ou somos nós que estamos
nos adaptando ao que a ferramenta nos oferece? É o velho dilema-Tostines: vende
mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?
O que podemos supor, por enquanto, é que talvez venha daí a
causa da enorme fadiga que as pessoas vêm sentindo em relação ao Facebook: o
cansaço de ter que suportar uma imagem incoerente com quem realmente somos.
Fonte: YouPix [Adaptado]
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